quarta-feira, 18 de agosto de 2010

Rizoma

Olhando de fora se vê apenas aquilo. Nada mais que uma mesa, uma janela e uma árvore atrás da janela. Claro, não dá pra simplificar tanto assim. Convenhamos que se trata de uma composição nada habitual para uma sala de escritório, no mínimo um visual arborizado no meio de uma selva de pedra. Uma paisagem um tanto privilegiada.
Quem é que não gostaria de ter para si o seguinte panorama: todos os dias acordar, tomar café, pegar o carro e enfrentar o trânsito sabendo que uma árvore a espera para iniciar o cronograma?
Pois bem, essa é a pintura estática. Aquela árvore não está ali por mero acaso. Os peritos em nanotecnologia já desvendaram tudo. De suas folhas são extraídos insumos que semeiam terrenos inférteis, mal-plantados, em florestas distantes. Descobriram também que é na calada da noite que os planos florescem. E ao abrir a janela para o frescor da manhã penetrar sala adentro, os extratos se espalham através dos polens que se espalham sobre a mesa dela.

Suas narinas aspiram o límpido ar ligeiramente, e as ramificações internas de seu nariz arejam seu cérebro em questão de segundos, germinando, germinando ideias sem cessar. Eis que surgem entroncamentos, mix de culturas, experimentações, preparação de solos, adubagem, zilhões de insights frescos jorrando como água da nascente, forças sobrenaturais que movem montanhas, alastrando caules e raízes mundo afora.
Como no outono, ali também ocorre troca de folhas. Aos poucos as secas vão dando vazão ao vazio, e o vazio, aos brotos. A interatividade é total.
Viu só? Nada de árvore plantada sem fazer nada só enfeitando a paisagem. A pintura é dinâmica.

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