Peguei a última palavra da minha existência e arremessei do vigésimo andar.
Depois do trigésimo papel jogado na cesta de lixo naquela madrugada à procura fatigante da maldita, uma tragédia me veio à mente.
Quando dei por mim havia cometido um ato ignorante. De um lado, heróico, de outro, bastante desprezível. Aurélio não me perdoaria. Suas vestes banhavam o mar e suas tintas encobriam os peixes com novas listras. Era um adeus ao vício de querer sempre saber sua opinião sobre minhas escritas.
Foi de grande tristeza para os pescadores apanhar folhas manchadas de contradições. Paradoxos, sinônimos e antônimos boiando em alto-mar denunciavam a ignorância de quem tentou matar a veia poética.
O que diria você de um papel vazio sem uma mísera letra sequer e mesmo assim você tivesse que ler?
Não enxerga? Tente o último andar.
Quem sabe lá do alto você consiga decifrar a palavra assassinada.
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