quarta-feira, 9 de junho de 2010

A flor e o jardineiro

Apesar de alguns espinhos, não deixava de ser flor. Apesar de despetalada, também não. Flor era flor e só queria um lindo jardim para crescer. Um lindo jardim e algo mais precioso: descobrir qual flor ela era afinal. Flor vivia pelos cantos, murcha e desidratada. Flor sobrevivia isso sim, ora num espaço mirrado, num pedaço de terreno arenoso quase sem vegetação, ora num vasinho qualquer cujo dono nem aparecia pra regar. Sem terra, sem água, sem identidade, flor vivia em desamor.
Mas como nem tudo na vida são só rosas, flor foi colhida e acolhida. Mãos experientes de um sábio jardineiro reconheceram em flor a dor. Férteis mãos cuidavam de flor como ninguém,

e ajudavam flor a resgatar seu amor. Não, não era nenhum amor-perfeito. Mas dava flor.
Foi então que o jardineiro preparou o terreno com o mais nobre dos adubos e a mais fresca das águas. E replantou flor. Eram dias luminosos aqueles em que as sábias mãos a cultivavam com tanta delicadeza. Flor se derramava em pétalas tamanha emoção. No começo só sabia reconhecer qual flor ela não era, e já era o bastante. Se sentia viva naquele vasto jardim.
As raízes de flor começaram a fincar na terra. Flor foi florescendo e desabrochando tanto que um belo dia surgiu um lindo beija-flor. Ela quis voar como ele, e voou. Juntos fizeram um lindo ninho florido. Flor agora tem cor. Do alto de seu jardim particular, lá no topo da árvore, flor observa o jardineiro e suas abençoadas mãos. Flor já sabe que flor ela é, ele também. Mas isso é o que menos importa. O que importa é que flor não fica mais plantada esperando a primavera chegar. Flor dá flor em qualquer estação do ano.