Decidi. Nunca mais vou escrever.
Toda vez que começo escrever perco aos poucos a minha memória.
No segundo parágrafo já não lembro quem sou.
Da última vez que comecei a escrever lembro de poucos detalhes. Havia uma igreja, um padre, um confessionário. Lembro de um guardanapo me dado pelo padre. Lembro também de uma caneta que ele me deu. A tinta me chamou a atenção: era vermelho sangue.
Uma lágrima correu sobre minha face rubra. O padre também ficou com as maçãs do rosto rubras, fechou os olhos ao ler a primeira frase que eu havia escrito.
O guardanapo se transformou em cor de vinho, denso, forte, diria que era vinho de garrafão envelhecido há anos no carvalho.
Algo era muito importante, sei, mas não me lembro mais quem eu era...
Seria eu a moça ou o padre?
No dia seguinte àquele abri os jornais e vi a manchete de que uma moça se encontrava degolada dentro de uma igreja. Ela estava nua e banhada de sangue dentro de um confessionário. O padre fora preso com um guardanapo todo ensanguentado que havia escondido no interior de sua batina.
Fechei rapidamente o jornal e pensei: quem era aquela moça? Haveria alguém se fazendo passar por mim? E eu, quem sou? Você tem alguma ideia? Se souber, por favor, diga, escreva... porque eu, eu já não posso.
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