Se apenas houvesse noite, não haveria medo.
Talvez eu fizesse tudo o que me desse na telha.
Talvez a coragem vencesse.
À noite, ao contrário, tudo é claro. É possível. Tudo é fácil e mágico.
À noite, acordada, eu sonho. E me deixo levar pelos meus desejos.
À noite eu me encorajo.
Fecho os olhos apenas para enfeitar o cenário das minhas conquistas. Pois é claro!, já conto como certas.
Gosto do gosto da noite, desse seu feitiço, sua doce zonzeira, seu silêncio surdo que liberta minhas vozes caladas.
Quantas noites já lutei pra não dormir só pra poder sonhar?
Quantas pílulas já não tomei pra ficar acordada?
Mas o sono, esse destruidor da misericordiosa insônia, vem e rouba a dona da minha onipotência e se faz senhor dos meus pesadelos.
Porém, me mantenho a quilômetros do alvorecer.
Me recuso por um pé sequer madrugada adentro.
Tenho náuseas quando a lua se põe.
Vou morrendo ao nascer do sol....ao começar de novo.
Começar o quê?
O real?
Apagar o brilho?
Aprisionar o sonho?
Desligar o possível?
Ativar os medos?
Armar os entraves?
Dizer adeus aos delírios ilimitáveis da noite?
Não. Sou apenas de uma dona só. Ela, a escuridão.
Somente nela sou capaz de me ver.
Quanto mais negra, mais reflito.
Eu e ela, numa eterna cumplicidade.
Intimidade invejável.
A noite, meu fiel retrato.
Minha alma revelação.
2 comentários:
Oi Paula,
Amei "Apenas noite", mto lindo.
bjos
Silvia
Adorei!!! beijos
Postar um comentário