sexta-feira, 13 de agosto de 2010

A verdadeira Disneyworld

Dessa vez não tivemos que acessar nenhum paraíso-ilhado e nem comprar ingressos pra nos divertir. A diversão estava nas ruas, a cada quarteirão, a qualquer momento no meio das cidades, pra todas as crianças, de zero a noventa anos.

Não havia grades, cercas elétricas, arames farpados, guaritas nem vidros blindados. Não havia condomínios fechados com clubes para alguns privilegiados.

Havia sim mães entrando com carrinhos de bebês pra dentro dos ônibus com degraus que descem ao nível da calçada. Pracinhas arborizadas lotadas de imensos canos coloridos que jorravam águas divertidas em cima das crianças e seus papais. Ou chafarizes secretos, prontos pra molhá-las ao inverso, do chão pro alto.

Os pais que não estavam no meio da molhadeira assistiam tudo sentados
em confortáveis bancos de madeira armando o piquenique. Não, lá ninguém é farofeiro por fazer piqueniques, muito menos pobre.

Fim da brincadeira, hora de ler, que tal uma paradinha numa enorme biblioteca em que a ala infantil tem bichinhos de pelúcia em cima das estantes dos livros? A história já começa a ficar ainda mais divertida, afinal, ler diariamente não é nenhum bicho do outro mundo.

O dia todo nas ruas sem nem olhar na hora de atravessar. E o mais divertido ainda fica na hora de voltar pra casa. Como vamos? de Sky-trem? de metrô, de ônibus que carregam bicicletas na dianteira? de ônibus movidos a eletricidade? Ou vamos de bike, já que há mais de seis mil bikes em quatrocentos pontos espalhados pela cidade? Não, não. Vai ser mais engraçado ir de charrete vendo o cavalo fazer coco nos fraldões de couro pra não sujar a rua.

Ai que sede, também, puxa!! E a fome já bateu. – Mamãe, por que o garçon trouxe água sem a gente pedir? Aqui água é de graça?!

Não, hoje andamos muito, e agora com o estômago cheio é melhor ir de ônibus mesmo. Chega aqui no ponto, vamos olhar a planilha: olha só, o itinerário do ônibus 108 passa perto do nosso hotel, e chega daqui há dois minutinhos, às oito e quarenta e dois. – Não, ele chegou antes do horário e tá ali desligado esperando os passageiros. Ahh.. mas eu queria ver de novo aqueles esquilinhos no parque! - Boa tarde, tudo bem? - Responde, filho, o morotorista perguntou se você está bem, responde. – Você conhece ele, mamãe?!

Peraí, peraí, não entra no ônibus, não. Olhe só pra baixo daquele viaduto: vai começar o espetáculo do Cirque Du Soleil, e é de graça!

- Puxa, mamãe, por que não inventam mais parques de diversão no meio das ruas como esses lá onde a gente mora?


Educação gratuita, só que não é em nenhuma escola.

Um mundo de perguntas, uma enciclopédia.
Marcelo perguntou muito. De tudo.
Por que as pessoas paravam pra nos ajudar, a dar informações. Por que os carros paravam pras pessoas atravessarem mesmo fora da faixa de pedestres. Por que as crianças viviam tão soltas, sem amarrem suas mãos as mãos temerosas de seus pais. Por que as crianças podiam andar de bicicleta nas ruas. Por que tinha piscinas aquecidas públicas e limpas. Por que todo mundo fazia fila na mesma largura da faixa de pedestres até chegar sua vez de atravessar. Por que estavam construindo pontes nas estradas só para ursos, alces, bodes, esquilos atravessarem pro outro lado.

Esse paraíso a céu aberto já tem outro nome, mas Liberdade seria perfeito.
Canadá. É só um país, mas poderia ser o mundo.

Um comentário:

Marcio disse...

O único problema é que o paraíso congela durante 6 meses todos os anos. Se não congelasse, acho que não seria assim, seria um pouco mais avacalhado, um pouco mais Brasil, sei lá...