quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Banho

Hoje não. Não poderia ser só um banho. Não, hoje não. Hoje tinha que ser um banho de vó. Num banheiro de vó. Com piso de vó, com cortinas de vó, banheira de vó, tapetinho de vó, espumas de vó, cheiro de vó. Não, hoje não. Hoje não poderia ser nessas casas modernas, nesses apartamentos minúsculos, nem que fossem grandes, não poderia. Hoje tinha que ser nessas casas largas, antigas, azulejadas, tudo grande, tudo espaçoso, banheira branca, canos enferrujados, banheiro a perder de vista. Vaso aqui, banheira lá longe. Hoje nenhum vidrilho pós-moderno tamparia o buraco desse caco que se estilhaçou em mim. Nenhum metal arrojado estancaria essa gota d´agua. Há um cano que se rompeu. Uma vontade imensa de mergulhar naquela fonte que ficou lá trás, bem lá trás, e que nunca mais voltará.

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