terça-feira, 10 de novembro de 2009

Jardins medievais

Andando por jardins medievais, em meio a arbustos bem aparados, ele surge. Uma figura máscula de aspecto rudimentar trajes escuros cabelos e barbas abundantes. Ele me olha sob um ângulo nada frugal. Me enfeita e me enfeitiça. Me ama instantaneamente. Estou do jeito mais simples que alguém poderia estar. Faces lavadas, alguns fios de cabelos grudados no rosto pelo suor e pelo vento, sem ornamentos dignos da corte. Ele me olha e me deseja assim dessa maneira modesta, vestida de mim mesma, sem apetrechos nem máscaras. Desce de seu cavalo e ergue minha mão, beijando-a infinitamente.
Eu e minha prima, de cabelos longos e negros como os meus, vamos com ele em seu cavalo ao nosso castelo. Nossos aposentos são os mais módicos. Estamos em um quarto espaçoso com móveis pesados esculpidos em marrom rococó. O cavalheiro nos convida para um refresco sob o pôr do sol. Nossos colos fazem uma leve mesura simultânea aceitando o convite. Sentado numa das camas do aposento, lá no canto, ele observa o contorno de meu corpo. Minha prima e eu estamos sentadas na cama maior, mais próxima de um espelho. Viro-me de costas para o cavalheiro, abro o armário e pego pequenas caixinhas de vidro transparentes. A beleza das joias que retiro delas reside em suas delicadezas. Coloco um pequeno par de brincos branco, um pequeno colar branco e uma pequena aliança branca. Nas maçãs do rosto, apenas um leve pó de arroz empalidecendo a pele. Pressinto sua ansiedade que me é confirmada pelo som de suas ofegantes narinas e pelo minúsculo espelho do pó de arroz por onde o espio com discrição. Suas mãos tentam alisar alguns pêlos arredios de suas barbas. Apenas um borrão cor de rosa claro sobre os lábios e meu sorriso vespertino está pronto.
Quando viro anunciando a partida, seus olhos são de horror. Seu olho esquerdo toma proporções caricatas. De príncipe a monstro em frações de segundos. Feroz, ele cobre parte do rosto arrastando a barra de sua capa até a cabeça. – Nãoooo! Eu não posso! Tamanha beleza me machuca! Nunca mais quero vê-la diante de mim.
Ele corre para a porta. Vou atrás, clamando por seu genuíno amor.
- Saia de perto, ele grita, saaaaia..ainda mais enfurecido. Eu amo aquela beleza simples que vi em você, não entende? Jamais poderei conviver com beleza maior.
Partiu como chegou. De maneira inesperada, com gestos singelos, marcantes e terrivelmente assustadores.

2 comentários:

Terê Barbosa disse...

Que bom...voltou a escrever.
Muito bom....Continue!!!

Zenny disse...

surpresa.....