segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

Meias encardidas

Se tem uma coisa que me deixa feliz com a chegada do fim do ano é ver que meu filho cresceu. Mais que isso. É ver como ele cresceu. E quando olho para o como não tem jeito de não olhar para a sua escola. E aí vem mais um grande motivo de alegria. A escola do meu filho é tudo de bom. É um casamento que vem dando certo. Justamente porque ninguém está brincando de casinha, de par perfeito, de alma gêmea. Tem dado certo porque nada é velado. Os amores e dissabores moram debaixo do mesmo teto. E podem ser compartilhados para serem transmutados, crescidos, verificados. Tudo o que acontece do lado de lá eu sei. Pelas bocas e vozes das pessoas que ali trabalham. E não por telas monitoradas via internet muito menos por boletins, agendas ou manuais de comportamento. Vejo que meu filho se aproximou da letra bastão e que ainda teme um pouco a letra cursiva, mas que os ponteiros de seu tempo interno foram amplamente respeitados. Fico feliz que ele termine o ano sem dominar a cursiva. Pra que pressa? Aliás, me pergunto: onde mães e pais com filhos de apenas seis anos como o meu estão indo com tanta pressa?
Alfabetização aos quatro. Bilíngüe desde a maternidade, de preferência. Natação. Piano. Judô. Balé. Karatê. E o pior vem agora. Requisito Básico de uma Excelente Candidata à Pré-Escola: aquela que inclua um ensino médio forte que prepare para o vestibular!
A culpa é de quem, das escolas? As escolas são produtos como qualquer outro. Só existem e são como são porque há demanda. A culpa é dos pais que desejam isso para seus filhos. Nem diria culpa porque o buraco é bem mais embaixo. Diria sufoco e opressão mal cuidados que se transformam em bola de neve. Pais que vêm sendo massacrados por cobranças infindáveis de MBAs e pós e mais pós para no fim verem tudo isso explodir num curto espaço de tempo - perto dos quarenta ou cinquenta. Talvez inconscientemente esses pais queiram poupar seus filhos, querendo que eles adiantem essas etapas...que estejam mais preparados, sofram menos...algo assim... É duro, eu sei. E com isso ninguém olha pra escola e para a infância com o olhar que ela merece, com o olhar do aqui e agora... é uma pena.
Eu também me cobro tudo isso, mas alguma coisa me segura no aqui, quero ficar nesse momento, viver o hoje do meu filho. Não sei se é porque escrevo, então quero reescrever essa história. Quero acreditar que ele não vai precisar entrar nessa loucura desvairada para exercer seus talentos e capacidades. Por isso está na escola que está. Um lugar que o ajuda a revelar e ampliar suas potencialidades de verdade. Um lugar que o escuta, que mostra pra ele o que são os espaços, os dele e os dos outros. Um lugar onde ele bota a mão nas artes, nos livros, nas pinturas, nos jardins. Que ele sai de casa limpinho e volta pra casa um trapinho, todo sujo e rasgado, de ter até que jogar as meias dele fora de tão encardidas. Mas essa é a escola que me deixa feliz. Que fala a língua da gente, que conjuga o mesmo verbo: viver para crescer.

4 comentários:

Palavra Criada disse...

absolutamente amo!

EZInnovTools disse...

É isso aí Brimis, só se melhora o mundo melhorando os pais e a escola, o resto é decorrência, é surf.

Marcelo Cunha Bueno disse...

Fico feliz por crescer e viver com o meu querido Marcelão!
Beijo grande e bom ano para todos,
Marcelo

Unknown disse...

Você não dorme!
Brinca de estar ao longe, mas está sempre aos lados.
Sensibilidades...´

Eric